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IGc na Mídia – Belo Monte e estiagem secam Volta Grande do Xingu

Monitoramento indica que baixa vazão impede a reprodução de peixes e inviabiliza o modo de vida de indígenas e ribeirinhos

Publicado: Edição 346, dez 2024 – Pesquisa FAPESP – Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/belo-monte-e-estiagem-secam-volta-grande-do-xingu/
Texto: Maria Guimarães

A vegetação dos igapós tem baixa estatura e cresce sobre a areia e as rochas do leito, que deveria alagar nas épocas de cheia Carlos Fabal / AFP via Getty Images

No final de novembro, quando começava a chover na bacia do rio Xingu, os sarobais floriam nos igapós e os pacus, curimatás, tucunarés e outros peixes começavam a se preparar para desovar nas piracemas da Volta Grande do Xingu (VGX), Pará. Habitantes da região – indígenas e ribeirinhos – planejavam o acampamento anual nessas áreas para aproveitar a fartura da pesca e se locomoviam principalmente usando voadeiras, reservando as rabetas para águas mais rasas. Essa descrição, repleta de termos amazônicos que refletem todo um sistema socioambiental, tem os verbos no passado porque, nos últimos anos, nada disso tem acontecido. O motivo é a soma devastadora da construção e operação da usina hidrelétrica Belo Monte com as sucessivas estiagens extremas que têm castigado a Amazônia.

A usina de Belo Monte começou a ser construída em 2010, com um projeto de geração de energia por fio d’água, que não exige a formação de represas tão grandes. “É bem diferente das outras grandes usinas recentes”, diz o geólogo André Sawakuchi, da Universidade de São Paulo (USP), que desde então passa cerca de duas semanas por ano na região em trabalho de campo. Mas isso não significa um impacto pequeno. No caso do complexo hidrelétrico de Belo Monte, a barragem Pimental formou uma represa perto da cidade de Altamira. A partir dela, foi escavado um canal que leva água para uma represa intermediária ao fim da qual a usina principal na barragem de Belo Monte gera energia (ver infográfico). A transposição desvia a água da Volta Grande, que abriga dezenas de comunidades ribeirinhas e três povos indígenas ao longo de 130 quilômetros (km). Essas populações passaram, assim, a repartir o rio com a necessidade de gerar energia para centros urbanos no sul do país.

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

De acordo com Sawakuchi, o projeto original já previa reduzir a vazão da VGX em algo entre 70% e 80%, pior do que qualquer evento de seca extrema. “É um design que gera uma situação de conflito por água.” Ele relata que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exigiu, para autorização do empreendimento, que a empresa gestora – Norte Energia – mantivesse um monitoramento dos impactos para reavaliação posterior da alocação hídrica.

Diante desse cenário, indígenas perceberam que precisavam vigiar o impacto. “Começamos o monitoramento em 2013, antes do fechamento da barragem”, conta Josiel Juruna, vice-liderança da aldeia Mïratu, na Terra Indígena Paquiçamba do povo Yudjá-Juruna. Com apoio do Instituto Socioambiental (ISA), seu grupo começou a anotar a pesca e a caça que chegavam à aldeia e ampliou a ação para outras seis comunidades indígenas na área. Assim nasceu o Monitoramento Ambiental Territorial Independente (Mati), coordenado por Juruna. A usina começou a operar em 2016 e atingiu o funcionamento pleno em 2019.

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