O INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
A Universidade de São Paulo (USP) remonta à década dos 30, quando da sua fundação em 25 de janeiro de 1934, e, ato contínuo, foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), idealizada como o agente propulsor do seu desenvolvimento educacional e científico. Nessa faculdade estava o ensino das ciências biológicas, físicas, químicas e naturais, constituídas por vários departamentos, que tinham a responsabilidade de organizar e gerir cursos de bacharelado que tinham o mesmo nome. No Curso de Ciências Naturais havia dois departamentos que ministravam ciências geológicas: os departamentos de Mineralogia e Petrografia e de Geologia e Paleontologia.

Em 1957, o Ministério de Educação do país deu início a quatro cursos de geologia, e um deles coube à USP. Pela sua natureza, esse novo curso foi colocado sob a responsabilidade da FFCL, em virtude da existência dos dois departamentos de ciências geológicas. Dessa forma, os primeiros geólogos brasileiros foram formados pela FFCL, e nessa fase, o Curso de Geologia foi ministrado nas dependências então existentes na Alameda Glette, na parte central de São Paulo. No ano de 1969, houve a sua transferência para novas dependências na Cidade Universitária.
Esse mesmo ano ficou marcado como o ano da Reforma Universitária da USP, responsável por alterações profundas na sua estrutura organizacional, que afetaram principalmente a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras devido à saída do segmento das ciências exatas e biológicas para a formação dos Institutos Básicos. Como resultado da reforma, as Ciências Naturais foram reunidas no Instituto de Biociências, e todas as Físicas no Instituto de Física, as Químicas no Instituto de Química, as Matemáticas no Instituto de Matemática e Estatística e a Geologia no Instituto de Geociências e Astronomia (IGA). Além dessas unidades, foram também criados o Instituto Oceanográfico, o Instituto de Psicologia e a Faculdade de Educação. Com essas alterações, a antiga FFCL deu lugar a uma nova instituição, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), composta pelos cursos de Ciências Sociais, Filosofia, Geografia e História, e Letras.
Decorridos pouco mais de dois anos, em 1972, o Conselho Universitário da USP aprovou a incorporação de um de seus institutos anexos. Trata-se do então Instituto Astronômico e Geofísico (IAG), uma unidade de pesquisa situada no Parque do Estado de São Paulo, no bairro da Água Funda, que foi transformado em unidade da USP, com a mesma sigla (IAG) e passou a ser constituído pelos departamentos de Astronomia, Geofísica e Meteorologia. Com isto, o Instituto de Geociências e Astronomia (IGA) foi reorganizado, com pequenos rearranjos de disciplinas, e perdeu o seu “A” com a saída da Astronomia, tornando-se, assim, Instituto de Geociências (IGc).
Na fase inicial, O IGc era constituído por quatro departamentos: Mineralogia e Petrologia, Estratigrafia e Paleontologia, Geologia Geral e Geologia Econômica, e Geofísica Aplicada. Entretanto, por decisão do Conselho Universitário, em 1999, esse número foi reduzido para apenas dois: Mineralogia e Geotectônica e Geologia Sedimentar e Ambiental. Na época, o IGc possuía como elementos de apoio na organização e gerenciamento das atividades de pesquisa, o Centro de Pesquisas Geocronológicas (CPGeo) e o Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (CEPAS). Mais recentemente foram também incorporados outros órgãos de apoio, como o Laboratório de Geocronologia de Alta Precisão SHRIMP, os núcleos de pesquisa (NAP) GeoHereditas e Geoanalítica e os novos centros de laboratórios multi-usuários.
Instalações
As condições de funcionamento do curso de Geologia, no prédio à rua do Lago, são satisfatórias para atividades didáticas e para acomodação dos docentes, proporcionando condições confortáveis de trabalho, e condições gerais plenamente aceitáveis para o desempenho das suas funções. Além das dependências destinadas às atividades administrativas, didáticas e de pesquisa com grande número de laboratórios, merecem também citação aquelas destinadas a dois órgãos específicos que desempenham papel significativo no processo de acesso e difusão do conhecimento geológico, a Biblioteca e o Museu de Geociências.

A unidade se distingue também por conter outras seções administrativas que desempenham papel relevante no conjunto de suas atividades, como a de informática, de ilustração geológica, ede apoio permanente aos membros do corpo docente na produção de material didático e de pesquisa.
Possui também uma seção responsável pela elaboração e edição da revista institucional Geologia USP, um importante veículo de divulgação científica de periodicidade regular.
Recursos humanos
O Instituto de Geociências conta com um corpo docente formado por 56 professores, todos com titulação mínima de doutor e exercendo atividades em regime de dedicação integral à docência e à pesquisa (RDIDP). Adicionalmente, possui também 17 professores sêniores, que apesar de aposentados permanecem em atividade na instituição, colaborando notadamente em atividades de pesquisa.
O corpo de servidores técnicos e administrativos da unidade soma atualmente 110. Os técnicos correspondem à categoria dominante (57), enquanto que os de nível básico são 26 e os de escolaridade superior 27.
Atividades de ensino
As atividades de graduação em Geologia para a obtenção do título de bacharel remontam à criação do curso, em 1957. No ano de 2004, passaram também a incluir a Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental, visando à formação de profissionais mais direcionados para o exercício do magistério.
No período de 1957 a 2023, o curso de Geologia foi responsável pela formação de 2.253 geólogos. Já o curso de Licenciatura soma 217 graduados.
A partir de 1972 foi implantado o sistema de pós-graduação na USP nos moldes do modelo americano. O programa em funcionamento no IGc contempla três áreas distintas: Geoquímica e Geotectônica (GG), Mineralogia e Petrologia (MP) e Recursos Minerais e Hidrogeologia (RMH). Até 2023, 878 pós-graduandos concluíram o Mestrado e 597 o Doutorado.
Atividades de pesquisa
O IGc, no decorrer do tempo, se tornou um importante centro de pesquisa. O aumento da sua produção científica resultou de fatores diversos, como o incentivo à produtividade e o envolvimento em programas de pesquisa bem estruturados e objetivos.
Face ao importante apoio financeiro recebido de agências de fomento, a unidade consolidou a sua infraestrutura analítica e passou a promover algumas pesquisas que se tornaram referências mundiais. Hoje, o IGc desenvolve atividades de alto nível em várias frentes e participa ativamente de programas de cooperação científica com muitas instituições universitárias do exterior. Em termos de conteúdo, essa produção é altamente diversificada, com dominância de temas de geocronologia, geoquímica, mineralogia-petrologia e geotectônica.
Com relação à geocronologia, O CPGeo é um dos mais completos centros analíticos do País e tem desempenhado papel importante como polo incentivador na utilização das técnicas de datação radiométrica, na formação de recursos humanos, e no oferecimento de treinamento e na prestação de serviços para setores produtivos. Possui diversos equipamentos de grande porte e mais recentemente incorporou um novo laboratório, o SHRIMP, pioneiro na América Latina, destinado à geração de dados isotópicos para aplicação em processos geológicos globais.
Quanto à geoquímica, foi essencial o avanço na infraestrutura analítica a partir da compra de um equipamento de microssonda eletrônica nos idos de 1970, seguido por um novo modelo dez anos depois. No núcleo NAP Geoanalítica estão também disponíveis outros equipamentos de grande porte, como a fluorescência de raios X e o laser ablation visando à caracterização química qualitativa e quantitativa de produtos diversos (rochas, minerais, materiais industriais e solos).. As facilidades laboratoriais incluem ainda a difratometria de raios X, a microscopia eletrônica de varredura e o de anisotropia magnética. Finalmente, no início da década de 2010, foi adquirido e instalado o equipamento mais moderno do gênero então existente no mercado, o Field Emission JXA 8530F, de fabricação Jeol.
Presentemente, há 4 projetos temáticos financiados pela FAPESP e 1 projeto de grande porte financiado pela Petrobrás
- Investigações associadas ao Cráton Rio de La Plata e o Gondwana Ocidental.
- Sacre, que busca soluções integradas para cidades resilientes,
- Perfuração Transamazônica, que trata da origem e evolução das florestas, clima e hidrologia dos trópicos da América do Sul.
- Estudo integrado da Província Magmática Paraná.
- Inclusões fluidas em sistemas petrolíferos atípicos em sequências carbonáticas.
A unidade conta ainda com diversos projetos de pesquisa individuais sobre temas diversos, em andamento junto à Fapesp, CNPq e Petrobrás coordenados por docentes.
Atividades de extensão
Essas atividades incluem sobretudo cursos oferecidos à comunidade externa. Elas envolvem mais frequentemente o Museu de Geociências, que oferece programas de visitação monitorada para alunos das escolas de ensino fundamental e médio. O IGc também faculta visitas aos seus laboratórios para grupos de alunos, principalmente, do ensino médio. Além disso, a unidade mantém outras atividades direcionadas para a difusão de conhecimentos, e para debater assuntos atualizados, apresentados por especialistas de diferentes instituições.
Conclusões

Com início vinculado à antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o curso de Geologia passou a integrar, com a Reforma Universitária de 1969, uma nova unidade de ensino e pesquisa, o Instituto de Geociências e Astronomia, pouco depois transformado em Instituto de Geociências. Instalado em prédio próprio no número 562 da rua do Lago, ele veio a se consolidar no decorrer dos anos e, presentemente, se constitui num dos mais importantes centros nacionais de formação em geociências.
É dotado de infraestrutura analítica das mais respeitáveis, com equipamentos de última geração, que fazem dele um núcleo de pesquisa de excelência em alguns campos do conhecimento científico. Seu corpo docente é altamente qualificado, com a totalidade dos seus membros sendo portadora do título mínimo de doutor. Como resultado a unidade se distingue por uma atuação marcante que a coloca como um dos centros mais produtivos na Geologia brasileira.
Texto elaborado pelos Professores Eméritos Celso de Barros Gomes e Umberto Giuseppe Cordani.
Cronologia
1934 – Tem início o ensino das Geociências com a implantação do curso de Ciências Naturais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP), sob a responsabilidade do Gabinete de Mineralogia e Geologia.
1937 – No âmbito da FFCL/USP, os Departamentos de Geologia e Paleontologia e de Mineralogia e Petrologia são constituídos.
1957 – O curso de Geologia na FFCL/USP é instituído e se instala oficialmente no Palacete Glete na alameda de mesmo nome, São Paulo, Capital.
1969 – Por ocasião da reforma universitária da USP, é criado o Instituto de Geociências e Astronomia. Ocorre a mudança para instalações provisórias na Cidade Universitária do campus da capital de São Paulo.
1972 – O Instituto de Geociências e Astronomia passa a denominar-se Instituto de Geociências, com a transferência das áreas de Astronomia e Geofísica para o Instituto Astronômico e Geofísico – atualmente denominado Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas.
1977 – É construído o novo prédio do Instituto de Geociências na USP, na Rua do Lago, 562, para onde são transferidas todas as atividades de ensino e pesquisa da Unidade.
1999 – O Instituto de Geociências, por força da Resolução USP n o 4657, de 07/04/99, promove uma profunda reestruturação que resulta em dois departamentos: Mineralogia e Geotectônica (GMG) e Geologia Sedimentar e Ambiental (GSA).
2004 – Criação do Curso de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental.