Nota de Pesar

Nota de Pesar – Setembrino Petri [2]

SETEMBRINO PETRI

Por: Prof. Dr. Benjamim Bley de Brito Neves

Inauguração do Prédio do IGc/USP em 11/03/1975. Na foto: Reynald Ellert, Nabor R Ruegg, Setembrino Petri, Osmal S Dias, Evaristo Ribeiro Filho, Kenitiro Suguio, André Davino, A P Bonbouv e José Moacyr Vianna Coutinho.

Foto: Inauguração do Prédio do IGc/USP em 11/03/1975. Na foto: Reynald Ellert, Nabor R Ruegg, Setembrino Petri, Osmal S Dias, Evaristo Ribeiro Filho, Kenitiro Suguio, André Davino, A P Bonbouv e José Moacyr Vianna Coutinho.

Conheci o professor Setembrino nos anos 70, no velho prédio da Geologia, nas reuniões do Conselho diretor da SBG, associação da qual além de fundador e entusiasta, nunca deixou de colaborar efetivamente. Sua assinatura está lavrada na Ata de Abertura desta sociedade.

Nessa década, os professores adjuntos das universidades federais receberam a incumbência de escreverem teses de doutorado, o mais rápido possível, para não perderem a posição e talvez o emprego. O mais rápido possível!!! Sediado em Recife na velha UFPE, tive algumas chances para o exterior e algumas para o Brasil.

Alguém me lembrou ao Bino, e ele logo me convidou e aceitou. Falei que gostaria de fazer em Geotectônica. Ele não só concordou como sugeriu o Prof. Fernando Almeida, para que com ele acertasse o tema e a bibliografia ideal, na época.

A partir daí, foram quase 50 anos de convivência, amizade e dedicação, e de discussões geológicas em geral.

Eu escrevia cada capítulo e mandava para ele, pensando que estava abafando. Com presteza e grande educação recebia o capítulo de volta, no qual fora batido e combatido impiedosamente. Pude ver ali o conhecimento notório do Bino na geologia regional e na bibliografia da Borborema. Cada novo capítulo, novas lapadas, me ensinando discernir o que é escrever uma crônica pessoal do que é escrever/descrever geologia regional.

Sempre um homem gentil, sempre pronto para ajudar, sem jamais denegar o que escrevi, mas com crônicas medidas e bem apuradas, que guardei com carinho.

Imagino hoje, a alegria de Vicente Fulfaro, Kenitiro Suguio e Armando Coimbra com esta chegada tão especial no reino de Deus!!! E saibam da tristeza nossa, os que ficamos, com essa empreitada temida e pouco almejada.

Todos os anos, nos últimos anos, comemorávamos seu aniversário. Festivo, alegre, cheio de amigos e até mesmo de muitos alunos que nunca tiveram aulas com ele.

Eu falava de sua vida profissional, conhecendo as bacias sedimentares no nordeste ao extremo norte, e de suas incursões àquelas terras. Assim como os pais das donzelas tinham preocupações com Castro Alves, assim seriam os pais daquelas regiões, com a chegada repentina dos geólogos, e paleontólogos da Petrobrás. Bino ficava uma fera, mas sorria porque sabia da nossa querença por ele, da nossa admiração e respeito por ele.

Querem conhecer o Bino? Não perguntem a mim. Perguntem aos funcionários mais humildes, às secretárias de departamentos, aos chefes de departamentos. É bom que ele já foi chefe de departamento e diretor desta Instituição, e sempre foi um titular pleno, descansando no banco dos reservas dessa partida. Educação, vontade de ajudar, gentileza, cavalheirismo foram dotes seu inigualáveis, e destacáveis entre muito outros. Alguma dúvida na geologia regional de alguma província? Perguntassem ao Bino. Modesto e sereno ele sabia responder a todos.

Muitas vezes fui na sua sala, mostrar alguma coisa nova que pintara na bibliografia da geologia de alguma área. Ele agradecia, e ao mesmo tempo nos oferecia um ou dois trabalhos adicionais publicados ou inéditos sobre a mesma área.

Tirava um de seus dias para visitar e consultar tudo que chegara novo na biblioteca, e foi formando, modesta e honestamente, um cartel bibliográfico invejável, e recorrido por muita gente, sua presença na biblioteca era um tema do conhecimento de todos.

Todos anos, no primeiro semestre, ele deixava passar os primeiros dias, e depois me perguntava se eu estava lembrado para o próximo Setembro. Todos os anos, nós, ex-alunos, e muitos alunos que jamais tiveram aulas com ele vinham comemorar no saguão principal do Instituto o aniversário do Bino.

Nestas oportunidades, eu dizia, professor, não sei nada ainda. Mas, o senhor tenha certeza absoluta que, se vivo, estarei lá. Nos meus 50 anos de USP jamais vi um professor tão reverenciado, tenha dado aula ou não aos seus muitos alunos, leitores de seus livros, sabedores da sua história.

Bino, Setembrino Petri:

Consolidador de amizades

Dono de uma discreta simpatia acolhedora e não seletiva

Uma cabeça invejável para as ciências geológicas

Um amor inusitado às ciências e seus desenvolvimentos, sem fronteiras

Um distribuidor de amizades serenas e desinteressadas

Um homem de seu tempo sintonizado com os homens de todos os tempos

Um velho professor, inacreditavelmente jovem para os nossos tempos

Um velho e querido mestre, jovial e admirável em todos os seus tempos

Um pai e um esposo muito querido pelos seus

Um apego e um sentimento paternal para com seus alunos de todos os tempos. Da teoria geossinclinal à teoria dos LIPS

Um homem para o qual o orgulho e a vaidade sempre fracassaram nos seus intentos

Um padrinho de muitas formas para várias formas de afilhados

Um exemplo para os homens da Terra e para aqueles que proviam as universidades

Velho Bino

Setembrino Petri

Receba o abraço fraterno e comovido de teus amigos e colegas, privilegiados com a tua existência

Ficaremos com tua história e ficaremos felizes.