Publicado: 19/03/2025 às 06:53 – JCNET – Fonte: https://bit.ly/4210Dyd
Texto: Tisa Moraes

Futuramente, Bauru poderá ser 100% abastecida pelas águas subterrâneas oriundas dos aquíferos Guarani e Bauru. Com a oferta cada vez mais escassa do Rio Batalha, a possibilidade de a captação deste manancial deixar de ser viável, em termos ambientais, econômicos e de eficiência, não é descartada pelo projeto “Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes” (Sacre), que estuda o município desde 2022 a fim de traçar estratégias para reduzir a vulnerabilidade das cidades e do campo frente às crises hídricas e à emergência climática.
Desta quarta-feira (19) até sábado, o programa realiza a Semana Internacional Paulista de Águas Subterrâneas (Sipas), evento pioneiro no Brasil voltado à gestão dos recursos hídricos com potencial para tornar-se permanente. A competitividade da implantação dos chamados “campos de poços” em áreas mais afastadas do Centro da cidade, inclusive, é tema a ser abordado durante o encontro.
Coordenador do Sacre e professor titular do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Hirata explica que o projeto — apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com previsão de ser concluído em 2027 — conduz diversos estudos, um dos quais para apontar as vantagens destes campos de poços em áreas onde o Aquífero Guarani é mais profundo.
Uma estrutura do tipo, inclusive, deverá ser construída pela prefeitura na região do Val de Palmas, na zona Norte, a fim de diminuir a dependência do Rio Batalha de 26% para 12% da população da cidade. Para esta finalidade, o Executivo enviou à Câmara, nesta semana, projeto de lei pedindo autorização para financiar R$ 40 milhões, correspondentes à maior parcela do custo do complexo.
Hirata explica que, nas áreas onde há maior concentração de poços, o nível do aquífero tem caído de três a quatro metros por ano. Além disso, na parte Oeste da cidade, coincidentemente onde estão a lagoa de captação do Batalha e a população que depende da água fornecida pelo rio, o Guarani possui apenas 40 metros de espessura.
‘COMPETITIVO’
Já na área mais a Nordeste e Leste, o aquífero chega a 400 metros. “É nas áreas mais produtivas e mais próximas do centro consumidor, devido ao custo da adutora, mas não tão próximas a ponto de causar interferência em outros poços, que os campos de poços devem ficar para segurar a queda do nível do aquífero”, frisa, destacando que este modelo é comum em cidades europeias e estadunidenses.
“É uma alternativa bastante competitiva, mas outras possibilidades são analisadas, até porque a solução para o abastecimento de Bauru é múltipla”, complementa. Entre os estudos, estão o uso de plantas (fitorremediação) para tratar águas contaminadas que recarregam o aquífero Bauru, a transferência de água deste para o Guarani e a técnica Riverbank Filtration, que prevê a perfuração de pequenos poços à margens do Rio Batalha para lançar água subterrânea ao longo do manancial.
Outro experimento é usar águas superficiais para recarga do Guarani. Mas, em larga escala, esta solução só se mostrou eficiente para rios com menor nível de contaminação, o que não é o caso do Batalha.
Além disso, o DAE tem reportado queda na disponibilidade de água do manancial ao longo dos anos, o que pode ter relação com fatores como a expansão das áreas plantadas de eucalipto. Neste sentido, o Sacre aponta urgência de os municípios que fazem uso do Batalha estabelecerem uma política de gestão do uso do solo no seu entorno.
Sipas – Com especialistas do Brasil e Exterior, semana internacional ocorre de 19 a 22 de março em Bauru.