GEOLIT - Grupo de Pesquisa de Geociências da Litosfera

Prof. Marta Mantovani

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Nascida durante a segunda guerra mundial, num vilarejo próximo de Milão (Usmate-Velate). Aos quase sete anos, sua família transferiu-se para São Paulo (Brasil).  Continuou seus estudos que já havia iniciado na Itália, no Colégio Santa Marcelina, no bairro das Perdizes até concluir o ginásio, e cursou o Colegial no Dante Alighieri. Prestou o vestibular em Física da USP, em 1962, obtendo os títulos de licenciada em 1965 e de Bacharel em 1966. Nos últimos dois anos do curso, foi monitora no Laboratório de Física Superior.  Em fins de 1966, O Prof. Cesar Lattes, titular da cátedra de Física Superior na USP, e  criador do  CBPF (Centro Brasileiro de  Pesquisas Físicas) no Rio de Janeiro, ao aceitar o convite do Reitor Zeferino Vaz, decidiu transferir seu grupo de São Paulo para Campinas, onde estava sendo criada a UNICAMP e convidou os dois estagiários da Física Superior (Marta S. M. Mantovani  e Claudio Santos) a prosseguir seus estudos na Unicamp, sob sua orientação. A mudança ocorreu no segundo semestre de 1967, quando as instalações para abrigar o novo grupo, ainda eram inexistentes.

 

Alojados no porão do edifício histórico na Rua Culto à Ciência 422, o Departamento de Raios Cósmicos e Altas Energias, contava apenas com a presença do Professor Lattes, de sua assistente/aluna (Marta S. M. Mantovani) e um visitante japonês, participante da Colaboração Brasil-Japão; o mesmo porão abrigava o Computador da Unicamp, sob a chefia do Gal. Valverde e de um estagiário que operava no período noturno.

Em cerca de três anos, ainda no mesmo endereço, e contando com a presença anual de pesquisadores Japoneses, tendo sido o mais assíduo o Professor Yoichi Fujimoto, o laboratório, já operava normalmente com seis microscopistas, e interagia com o grupo do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Rio de Janeiro. Utilizando dois conjuntos de dados, aqueles obtidos nesse período e a reanálise dos dados publicados pelo grupo de Bristol-Bombaim, sua primeira aluna na UNICAMP apresentou sua tese de doutorado no início de 1971: “Observações sobre a produção múltipla de pions por hadrons da Radiação Cósmica”.

 

A proposta de um novo projeto a levou a interagir com o Centro de Pesquisas Geocronológicas da USP, onde realizou seu pós-doutorado. Uma das metodologias de datação proposta para o projeto era a análise por traços de fissão; os primeiros resultados, que precederam sua contratação no IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Meteorologia da USP) encontram-se descritos no artigo da revista Earth and Planetary Science Letters de 1974 (vol. 24, 311-318). Pouco antes do final do estágio, prestou concurso para uma vaga em Geofísica no IAG-USP, sediado no campus da Água Funda, onde iniciou sua carreira acadêmica.  Dentro do tema de Geofísica Nuclear, fez um curto- estágio na Noruega, onde aprendeu a técnica de ativação neutrônica, que transferiu para o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, antigo IEA -Instituto de Energia Atômica), através de dois trabalhos de mestrado sob sua orientação. As análises realizadas na Noruega foram publicadas em 1979 na revista Earth and Planetary Science Letters (vol.42, 311-320). 

 

Por meio de um Convênio bilateral com a Itália, verificou a potencialidade da utilização do isótopo do Rn-222 na previsão de erupções. A escolha do isótopo considerou sua volatilidade e a curta vida de emissão alfa. Após um estudo de atualização sobre o tema, para verificar as condições ideais e a viabilidade experimental da proposta, publicado em 1978, no Journal of Volcanology and Geothermal Research, sob o título: “Radon anomalies and volcanic eruptions” (vol. 3, 325-341), o experimento foi realizado, na Ilha de Vulcano (Itália). Utilizou detectores emulsionados sensíveis às partículas alfa resultantes do decaimento desse isótopo. O processo experimental é semelhante aos procedimentos utilizados na metodologia de traços de fissão: as partículas alfa produzidas pelo decaimento do Rn-222 ao atingirem o detector produzem um defeito que é revelado após processamento químico, e a concentração do Rn será proporcional ao número de defeitos observados. O experimento foi bem-sucedido, pois precedeu um enxame de sismos com antecedência de aproximadamente três semanas; os resultados foram publicados em 1981 na revista Geophysical Research Letters (vol.120, pag 962-965). Nesse tema, orientou um mestrado para a determinação experimental da constante de difusão do Rn; esses resultados foram publicados em 1984 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 56, p. 183-196; e no Bollettino di Geofisica pura e Applicata, 26, 135-141, no mesmo ano. 

 

Concomitantemente, utilizando um levantamento aeromagnético disponibilizado para a comunidade acadêmica pela CPRM (Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais, definiu a superfície de Curie para a área meridional do estado de Minas Gerais. A interpretação dos resultados obtidos, com esse trabalho pioneiro, mereceu em 1979 a aprovação dos editores da revista Nature, onde foi publicado o artigo: Depth of Curie Temperature computed from Aeromagnetic Anomalies in Southeastern Minas Gerais (vol. 9, 845-846). 

 

Através do convênio bilateral complementou o estudo do aerolevantamento utilizando também o método Gravimétrico no SE do Estado de Minas Gerais, buscando identificar estruturas crustais. Utilizou por vários anos essa metodologia em diferentes áreas de estudo, mas sempre dentro dos limites da área da pesquisa, visando identificar as demais dimensões da estrutura em análise. São vários os resultados obtidos por seu grupo de pesquisa e citados em literatura. (Ex. Revista brasileira de Geociências, 1979, V. 9, p. 33-38; e p. 39-43, do mesmo volume. 

 

Em 1984, foi indicada como Assessora Científica da FAPESP e, no ano seguinte, foi convidada para participar como membro  do Conselho Técnico e Científico do Observatório Nacional, do qual fez parte até 1991. Nesse mesmo ano de 1985, foi indicada como Assessora ad hoc do Comitê de Assessoramento do CNPq, onde cumpriu três mandatos de quatro anos, intercalados, por norma, sendo que em 2001-2004, atuou como coordenador do comitê de Assessoramento de Geofísica, Meteorologia e Geodésia.

 

Nesse período, aos levantamentos gravimétricos e magnetométricos, adicionou análises geoquímicas e isotópicas em rochas efusivas da Bacia do Paraná, cujas medidas foram realizadas nos laboratórios da Universidade de Pisa. Os resultados positivos sugeriram a busca  de parceria para essas metodologias. (Journal of Petrology, 1985 , v. 25, 187-209;  Atalla et al., Na. Acad. Bras. Cienc., 1985;v. 17, p. 19-33.

 

Em 1988 foi indicada como Editora Chefe da Revista Brasileira de Geofísica, que se encontrava atrasada, até quando o veículo já havia superado os atras  em 1991. Engajada nas atividades da Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf), foi eleita Presidente da Associação para o mandato de 1995-1997, sendo a primeira mulher eleita para esse cargo.

 

Em parceria com seus colegas de IAG, participou do Programa Internacional das Transectas, apresentando dois perfis, sendo um (Brusque) na região centro sul, desde o litoral de Santa Catarina e a fronteira com a Bolívia, e o outro (Santa Catarina) atravessando o Estado homônimo. Ambas foram publicadas em 1991 pela AGU (American Geophysical Union), da qual ela foi membro de seu Regional Advisory Committee (RAC – 1995-1997). (GLOBAL GEOSCIENCES TRANSECTS. Instituto de Astronomia, Geofísica e Meteorologia da USP; “Brusque Transect: from Atlantic coast to Bolivian Border” (vol. 4, 1-22) e “Santa Catarina Transect”)

 

Em 1984, terminado o intercâmbio com a Itália e, em vista das dificuldades de se obterem análises geoquímicas e isotópicas de forma expedita no Brasil, estabeleceu novo convênio bilateral, desta vez  com a Inglaterra (CNPq / British Council). Os primeiros resultados, já na linha de pesquisa estabelecida, foram publicados na revista Nature em 1986 (vol. 322, 356-359). Em 1985 obteve o título de Livre Docente, apresentando a tese intitulada: “Caracterização isotópica do magmatismo da Bacia do Paraná sua correlação com a crosta continental subjacente e com a abertura do Atlântico Sul.” Durante cerca de dez anos, foram obtidos resultados inéditos, caracterizando geoquimicamente a província dos basaltos da Bacia do Paraná, o que permitiu inferir os processos magmáticos ocorridos na ruptura do Gondwana e a separação África-América do Sul. No intercâmbio ocorreu a visita de vários pesquisadores e alunos.  (J. of Petrology,1988; Geological Magazine, 1989; Geology, 1990; Contribution to Mineralogy and Petrology, 1990; Bulletin of Volcanology, 1992;  J. Geophys.Res.,1994; Earth and Planet. Sci. Letters, 1994; J. Petrol., 1995; j. South American Earth Sci., 1995; J. Petrology, 1995; J. Geophys. Res., 1996; EPSL., 1997; J. Petrol., 1997; entre outros). Nesse mesmo ano de 1985, sua aluna de Doutorado apresentou a tese: O embasamento da Bacia do Paraná: reconstrução Geofísica de seu arcabouço. A publicação de seus resultados deu origem a uma nova interpretação da disposição das placas tectônicas, como subsídio para as teorias evolucionárias da Rodínia para o Gondwana, resultado esse publicado em 2005, no periódico Gondwana Research, vol.8 p. 303-315.

Em 1989, juntamente a outros dois candidatos, prestou concurso para uma vaga de Professor Titular no Departamento de Geofísica do IAG-USP, obtendo o título.

 

De 1991 a 1994 atuou como coordenadora brasileira desse Projeto Internacional da Litosfera (ILP), promovido pelas duas Uniões Internacionais de Geologia e Geofísica (IUGG e IUGS). Ao interagir com essas associações iniciou um projeto ligado ao Programa Internacional da Litosfera (ILP). Nesse programa atuou como “Chairman of ILP National Committees” de 1995 a 2000. Nesse período já havia definido o direcionamento da linha principal de sua pesquisa, financiada e desenvolvida em etapas consecutivas, sobre as características do segmento litosférico do S-SE do Brasil. Foram vários os resultados preliminares e alguns já conclusivos. 

 

Pelo Ministério da Ciência e Tecnologia,  de 1993 a 1995, foi membro do PADCT (Programa de  apoio  ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico); em 1996 foi membro do PRONEX (Programa de Núcleos  de Excelêcia. Comissão Setorial na área de Ciências Exatas e da Terra); em 2009, foi membro do Comitê de Busca, para avaliar candidatos à Direção do Museu Goeldi (PA).

 

Em 1994 foi convocada como membro do grupo técnico do PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, criado em 1984, para dar apoio financeiro à pesquisa).  Nessa data (1994), um seu aluno de doutorado, com projeto sobre maré sólida, estagiou durante um ano na Bélgica, através de novo convênio firmado para o propósito.  Os resultados de seu trabalho permitiram fazer uma comparação do comportamento mecânico entre África e América do Sul. Os resultados podem ser vistos no Periódico Earth and Planetary Science Letters (2005, 230, 397-412)

 

Em 1995, foi eleita membro do Comitê Executivo da IAVCEI (International Association of Volcanology and Chemistry of the Earth Interior), permanecendo até o fim do mandato, em 1999.  Em 1997, foi eleita Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências.

 

Em 1999, foi Paraninfa dos formandos em Geofísica e no ano 2000,  dos formandos de Geofísica  e Meteorologia do IAG-USP. No ano de 2005 foi Professora Homenageada  dos formandos em Geofísica. De 2000 a 2004, atuou como  Membro do Nominating Committee da IUGS,  e de 2005  a 2006, como membro eleito do Executive Committee da IUGS. 

 

Em 2001 foi Presidente da Comissão  de Cooperação  Internacional da Universidade de São Paulo (CCINT-USP), Comissão essa em que já atuava  como Assessora. Neste ano, foi também indicada Gestora, em 2002, Diretora Pró Tempore, e em 2003, Diretora do Parque de Ciências e tecnologia da USP, localizado no Parque no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), onde permaneceu na direção até 2011. O Parque Cientec foi criado no espaço deixado pelo Instituto Astronômico e Geofísico, hoje Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, sendo o projeto a reconversão dos Edifícios históricos e a criação de espaços lúdicos para o aprendizado da Ciência, dirigido à população em geral. O livro “Ciência e Tecnologia no Parque”, de sua autoria, apresenta um histórico e o projeto inicial de reconversão da área. Em 2004, foi convocada como Membro do Grupo Técnico do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI) – Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, respondendo pela área do PEFI destinada à USP. 

 

Em 2005 recebeu o Prêmio “Nero Passos” na modalidade “Education and Research Geophysicist”, tendo ainda atuado como Membro do Comitê Assessor de Geociências – CAPES. Mais tarde, em 2008 recebeu o Prêmio da Presidência da República, a “Ordem Nacional de Mérito Científico”, e o título de Comendadora.

 

Aposentou-se em 2014 com 70 anos de idade, com  atividades de extensão, ensino e pesquisa que comprovam seu irretocável comprometimento com a sociedade.

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